Os Três Porquinhos

 

    Era uma vez, na época em que os animais falavam, três porquinhos, Cícero, Prático e Heitor, que viviam felizes e despreocupados na casa da mãe. A mãe era ótima: cozinhava, passava e fazia tudo pelos filhos. Porém, dois dos filhos, Cícero e Heitor, não a ajudavam em nada, e o terceiro sofria em ver a mãe trabalhar sem parar.
Certo dia, a mãe chamou os porquinhos e disse:
-- Queridos filhos, vocês já estão bem crescidos. Chegou a hora mais importante na vida de um porco. Vocês terão que sair daqui de casa, cada um buscando o desenrolar da sua vida e seu sustento. Já dizia Pigs Vara Porquius, meu falecido marido e pai de vocês, "Os melhores porcos são aqueles que conseguem viver até apenas com um pão".

    A mãe, então, preparou um lanche reforçado para seus filhos e dividiu entre os três suas economias para que pudessem comprar material e construir uma casa. Os porquinhos então fizeram as malas e se meteram mundo afora. Indo para a floresta de Florificus, começaram a discordar com relação ao material que usariam para construir o novo lar.

-- Construirei minha casa de palha. -- disse Cícero --, um material fácil, maleável e barato.

-- Minha casa será de madeira. -- disse Heitor --, um material forte, bonito e fácil de construir.

-- Então, construirei minha casa de tijolos. -- disse Prático --, um material quase indestrutível, porém demorará para a casa ficar pronta.

-- Deixa disso, Prático. Só vai gastar tempo e dinheiro. -- disse Cícero.

-- E se tiver lobos?

-- Eu nunca vi um lobo por essas bandas -- disse Heitor.

-- Então vamos ver quem é que sobrevive por mais tempo.

    Cada um construiu sua casa e logo as casas de Cícero e Heitor já estavam prontas. Cícero estava dançando música russa quando Heitor o chamou para  

 

 

conhecer sua nova morada. Cícero, chegando à casa combinada, entrou, e Heitor disse ao irmão:

-- Olá, Cícero! Conheça minha casa. -- Heitor levava o irmão de cômodo em cômodo. -- Aqui, agora, está acontecendo a festa de inauguração e, logo, esta residência virará um buffet, já que tenho prática em fazer comidas. Pena que Prático não pôde vir; chamei Umberto Carlos para cantar, o cantor favorito dele...

    Enquanto isso, Prático acabou sua casa e foi dormir. Já eram nove da noite, e estava muito cansado. No dia seguinte, acendeu a lareira, sentou-se em sua poltrona e começou a ler seu jornal. O jornal tinha uma nota preocupante, que dizia:

" Lobus Alcatéius, mais conhecido como Lobo-Mau, escapou da penitenciária da floresta de Florificus. Fechem suas janelas e portas e não residam em casas de madeira e palha."

    Lendo isso, Prático ligou para Heitor e lhe disse a notícia:

-- Heitor, cuidado! Saiu no jornal que o Lobo-Mau fugiu da penitenciária da floresta, e também para os moradores não morarem em casas de madeira ou palha!

-- Bobagem! É só notícia sensacionalista.

-- Então quero ver! -- e desligou.

    Fez a ligação para Cícero, que não acreditou. Prático então desligou e começou a tocar flauta, já que era músico, para tentar não acreditar na notícia do jornal. No dia seguinte, o Lobo-Mau chegou a casa de Cícero e disse:

-- Sinto cheiro de porquinho! Abra a porta, porquinho!

    O porquinho disse:

-- Eu não abro, não! Você vem da pagodeira, vai curar tua coceira bem longe do meu colchãão! Bem longe do meu colchãão!

-- Então eu vou soprar, soprar e soprar até a casa derrubar. FUUUUUU!!

    A casa caiu, e o porquinho foi correndo esconder-se na casa de Heitor.

-- Abra a porta, Heitor! O Lobo-Mau está atrás de mim!

-- Entre rápido! Tinha que ser bem na inauguração do buffet?!

    O porquinho tratou de entrar, e o lobo não tardou a chegar na casa:

-- Hum! Sinto cheiro de dois porquinhos, quatro perus, dois alces, seis galinhas, sete coelhos, dentre muitos outros animais. Abram a porta, bicharada!

    Eles responderam:

-- Nós não abrimos, não! Você vem da pagodeira vá curar tua coceira bem longe dos nossos colchõões! Bem longe dos nossos colchõões!

-- Então eu vou soprar, soprar e soprar até a casa derrubar. FUUUUUUUU!

    Fez um pouco mais de esforço, porém conseguiu derrubar a moradia. A bicharada toda que estava na casa com os dois porquinhos correu bastante, quase uma São Silvestre e meia, e chegou à casa de Prático. Todos pediam:

-- Prático, deixe-nos entrar! O Lobo-Mau está atrás de nós! -- O irmão abriu, e todos entraram correndo.

-- Justo agora que eu estava dando um chá pros ministros da floresta! -- O lobo não demorou para chegar e gritou:

-- Abra a porta, bicharada! -- Eles disseram:

-- Nós não abrimos, não! Você vem da pagodeira, vai curar tua coceira bem longe dos nossos colchõões! Bem longe dos nossos colchõões!

-- Então eu vou soprar, soprar e soprar até a casa derrubar! FUUUUUU!! -- ele não conseguia -- FUUUUUU!! Eu não consigo derrubar esta casa! Como? Impossível!

    Dentro da casa, todo mundo dizia:

-- Tijolos, unidos! Jamais serão vencidos! Tijolos, unidos! Jamais serão vencidos!

-- Tive uma ideia, o lobo nos deixará em paz! -- disse Prático. O porquinho contou a ideia e todos aprovaram.

    Cícero disse ao lobo:

-- Deixe-nos em paz e não use a escada do lado da roseira para pular na chaminé e chegar aqui dentro.

    O lobo então pegou a escada e subiu no telhado. Enquanto isso, Cícero, Prático e Heitor colocaram um caldeirão fervendo na lareira que se ligava com a chaminé. O lobo pulou chaminé adentro e caiu direto no caldeirão. De tanta dor ele voou para bem longe para nunca mais ser encontrado. Os porquinhos fizeram uma banda de rock e, junto com a bicharada, deram uma festa de arromba, e a principal música era:

"Quem tem medo do Lobo-Mau, Lobo-Mau, Lobo-Mau?! Quem tem medo do Lobo-Mau, lálálálálá."

 

 Autor: André Pereira Falcão

Fim